terça-feira, 9 de dezembro de 2008

A Partilha II


"Senhor Scavone, seu pai faleceu" - "Foi atropelado por um piano e morreu na hora" - "Deixou a funerária Scavone aos seus cuidados e uma casa ao seu irmão mais novo". Já estava quase tomando coragem para desistir de chegar à loja de conveniência qdo se lembrou destas frases randômicas proferidas pelo sargento Oliveira. Tossiu, foi tomado pela falta de 4.700 substâncias tóxicas no seu sangue e pela aleatoriedade dos fatos q o estavam perseguindo até o exato momento. Pensou em Papa Léguas e em como tudo era mais fácil qdo não existiam lojas de conveniência e vc podia correr quilômetros no deserto em apenas alguns segundos. "Como o Coiote conseguia chegar sempre a frente da ave corredora para dispor suas armadilhas?" - Tudo teria sido realmente mais simples se Décio tivesse seguido sua promissora carreira acadêmica. Teria sido ainda menos ridículo se ele tivesse escolhido medicina ao invés de filosofia. "O Brasil não precisa de filósofos" - recordava seu pai esbravejando durante o jantar - "Com a violência aumentando exponencialmente, este país vai ter sempre mercado para caixões" - "A morte era um gde negócio no passado e continuará sendo para o futuro" - e seu pai concluia. Por último, imaginou sua vida como a de um Sócrates sem veneno ou a de um Nietsczhe com uma herança paterna q o atrapalhasse de concluir sua canônica epopéia vital. Não adiantava culpar seu pai, no entanto. "Como um piano atropela uma pessoa?" - "Será q um carro estava transportando o instrumento q, mal amarrado, caiu?" – Era uma morte btte particular. Uma família inteira, um legado regido pelos lucros da morte. A vida do grande filósofo, desapontado pelas fiandeiras do destino, Décio Scavone havia se tornado mais "sobre a morte" do q realmente uma sequência de acontecimentos biológicos bem organizados. "Ainda faltam 3 quarteirões" - "Eu devia vender a funerária e abrir uma loja de conveniências" resmungou.

O Barbeiro de Cadáveres - A partilha I

Décio Scavone estava exausto enqto voltava sozinho para seu apartamento. Buscou um cigarro e encontrou um maço vazio no lugar. Recordou da bela moça no metrô q lhe havia implorado por um (inflando seu gigantesco decote) no início da noite. "Se eu tivesse negado" - conjecturou com arrependimento. Está certo q na ocasião do pedido, o maço estava cheio. Porém, hipoteticamente, se tivesse saído por uma outra porta do expresso ele não encontraria o par de peitos e, sua hombridade não estaria posta em jogo por um pouco de nicotina. Nesta linha de raciocínio, ele muito provavelmente não seria sexualmente abordado e ainda teria um bendito cigarro para dormir tossindo ao lado de seus efisemas como todas as noites. Neste instante, Décio se lembrou de uma foto famosa de Gandhi com seu tear e um cigarro no canto da boca como Clint Eastwood. Talvez fosse o próprio Clint e, não fosse um tear e sim uma pistola. Mas o fato era simples - Tanto Gandhi qto o senhor Eastwood não possuiam lojas de conveniência em seus respectivos ambientes de trabalho. Como faziam qdo o cigarro acabava?