quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Taxidermia Radical I

“Os dois quarteirões mais longos de minha existência” – Décio estava btt ofegante. Ofegar e suar como um hidrante de pano costumava acontecer desde os tempos de faculdade. Desde q havia começado a fumar nos anos 80 e, principalmente após ingressar em uma das inúmeras variantes comunistas, guetizadas de maneira enfática pela Universidade de São Paulo (lado a lado em relevância universitária de grupos como pela “Libertação para a aproximação gay” e “Pela legalização da maconha já”). Se lembrou imediatamente do Prof. Dr. Valério Dantas. Homem alto, magro, sempre barbado e de feições bem profundas. Um dos muitos marxistas sectarizados e ridicularizados injustamente pela academia. “Um homem de idéias” – pensava Scavone. As lendas da Usp contavam q o professor Valério, na época, mero militante marxista do curso de Medicina, havia sido preso pelo DOPs como subversivo. Depois disso, como tortura psicológica, o médico foi obrigado a taxidermizar gatos e comunistas para figurões da ditadura. “Eu fui obrigado a empalhar a mão de Che Guevara para sanar os caprichos de um judeu maníaco.” – ele dizia. Repetia pelos cantos da FFLCH – aonde conseguia ouvintes mais inflamados – de maneira obtusa q “A única coisa q os judeus odeiam mais q nazistas são comunistas” – “Não se pode ganhar dinheiro nem xingar empregados em uma comuna”. – Qdo a ditadura acabou, o pobre professor Valério foi exilado definitivamente para as aulas de Anatomia Animal II no menos glamouroso curso de biologia. Foi neste ostrascismo intelectual q o docente herege decidiu criar o “Clube de Taxidermia Radical”. Uma formulação crítica anti Balzachiana. Como perspectiva ideológica inicial, o clube acreditava em algo como preencher a “casca” capitalista da efemeridade física do corpo, recheando-o em feno e pó, demonstrando aos seus membros a alma vazia da propriedade privada – “Sua falta de conteúdo e essência”. Com a ajuda de alguns antigos amigos da Sta. Casa, Valério conseguiu cadáveres clandestinos e o patrocínio da CNPq.